sábado, 4 de setembro de 2010

Em desafio de transportes, carro perdeu de bicicleta e de quem foi a pé

Desafio Intermodal


Publicada em 03/09/2010 às 23h44m
Cláudio Motta - O GloboRIO - Qual é a maneira mais rápida de ir de voltar para casa depois de um dia de trabalho? A pergunta motivou voluntários da ONG Transporte Ativo (TA). Eles partiram às 18h da Central do Brasil com destino ao Leblon usando 15 combinações possíveis de deslocamento - carro, táxi, metrô, ônibus, bicicleta, patins e até mesmo a caminhada - para percorrer os cerca de 16 quilômetros que separam os dois pontos. O resultado surpreende. Muitas vezes é melhor ir caminhando.
No chamado Desafio Intermodal, os primeiros colocados foram Tiago Moraes Leitman, de moto, e Jonas Hagen, de metrô até General Osório, onde sua bicicleta já estava esperando para completar o percurso. Ambos demoraram 49 minutos. Em seguida, Fabrina Lima, que do metrô usou patins, gastou 57 minutos. Eduardo Bernhardt foi de bicicleta desde a Central, usando o caminho mais curto: 63 minutos.
Um minuto depois, Jacqueline Torres chegou à Praça Antero de Quental. Ela foi de metrô até Ipanema e de lá caminhou para o ponto final, sendo mais rápida do que Zélia Cascardo (metrô mais ônibus integração, em 67 minutos) e Inglid Santana (metrô mais ônibus comum, 70 minutos). De táxi, Érica Sepúlveda demorou 72 minutos. E andando apenas nas ciclovias, Roberto Dias levou 78 minutos, chegando antes de quem foi de ônibus, bicicleta ou mesmo carro.
Glenn Suba, que foi de ônibus (linha 132 Central-Leblon) chegou em 84 minutos. Dois minutos depois do ônibus, 23 minutos após a bicicleta e oito minutos depois de quem foi a pé, chegou o carro, que demorou 86 minutos, via Aterro do Flamengo, para completar o circuito. Isto inclui achar uma vaga e estacionar. Ele só não foi mais lento do que Carlos Eduardo Freitas, também de bicicleta, (que sentiu dores no joelho e precisou diminuir o ritmo das pedaladas), completando o percurso em 97 minutos; do que Luiz Paulo Leão, que caminhou da Central ao Leblon em 122 minutos; e do que Mauro Tavares, que ficou esperando uma bicicleta pública aparecer na estação de General Osório, sem sucesso.
O resultado será tabulado num relatório, que descreverá, inclusive, as emissões de poluentes feitas por cada voluntário. Diretor da ONG, José Lobo afirma que o material será enviado para prefeitura, tanto para as secretarias de Transportes e de Meio Ambiente.
- As pessoas devem experimentar outras formas de locomoção para ver qual é a melhor. Entre General Osório e a Praça Antero de Quental, quem foi caminhando chegou mais rápido do que os que usaram ônibus. Se a cidade oferecer infraestrutura, calçadas mais confortáveis, ciclovias e bicicletários adequadas, mais pessoas deixariam de andar de carro ou de ônibus em pequenos percursos. Os dados também mostram que o sistema de transporte precisa ser revisto - disse Zé Lobo.
Esta é a quinta vez que a ONG faz o teste, mostrando que o trânsito está ainda mais lento. Em 2006, o carro demorou 64 (22 minutos mais rápido do que em 2010). A moto, levou 41 minutos (oito a menos); e o ônibus 79 (cinco minutos de diferença).
Carlos Farache, superintendente da Serttel, responsável pelas bicicletas, alega que o horário costuma ser de grande movimento, por isso não havia qualquer unidade disponível em General Osório:
- Hoje temos cerca de cem bicicletas. Até o fim do ano deveremos passar para 500. Também vamos fazer a colocação de leitores de vale de transporte eletrônico, o Riocard, em todas as estações.
Em nota, a Secretaria municipal de Transportes (SMTR) informou que os números do desafio intermodal não surpreendem, já que "o Rio de Janeiro foi vítima, por décadas, da falta de investimentos em infraestrutura de transportes". A SMTR alega que houve aumento do número de carros e que "regiões com as zonas sul e a central da cidade foram as que tiveram a mobilidade mais comprometida".
A Secretaria espera que a licitação do transporte de passageiros por ônibus, encerrada esta semana, melhore a distribuição de linhas pela cidade. A frota da Zona Sul é considerada excessiva. A SMTR vai desenvolver projetos faixas exclusivas para garantir maior velocidade às viagens, estimulando o transporte público.

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