sexta-feira, 14 de maio de 2010

Mais bicicletas para humanizar as vias brasileiras


14/5/2010
Valor Econômico

Movidas pelo trânsito congestionado, pela conscientização a respeito das mudanças climáticas ou mesmo pela busca por um modo de vida mais saudável, as bicicletas avançam na condição de meio de transporte nas cidades. Cálculos da Associação Bike Brasil, a mais antiga ONG dedicada à defesa dos interesses dos ciclistas do Brasil, mostram que o país dispõe de uma frota de 60 milhões de bicicletas, das quais 53% são utilizadas no transporte.
   
No entanto, de acordo com especialistas em mobilidade urbana, a participação das bicicletas entre os diferentes meios de transporte no Brasil, de 4%, em média, ainda é bastante pequena, se comparada aos 40% que se observam em cidades europeias como Amsterdã e Copenhague. Com o objetivo de estimular o uso das bicicletas como transporte complementar nas cidades, o Ministério das Cidades está implementando, desde 2004, o Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta (Programa Bicicleta Brasil), que tem como objetivo estimular os Estados e municípios a promoverem o uso da bicicleta como meio de transporte, de forma integrada a outros meios.
   
"As bicicletas têm uma excelente aplicação para o transporte em distâncias inferiores a 5 quilômetros", diz Cláudio Oliveira da Silva, coordenador do Programa Bicicleta Brasil. Adequa-se perfeitamente, portanto, como um dos instrumentos para debelar a crise de mobilidade que afeta algumas das grandes cidades brasileiras.
   
Segundo Silva, uma das influências mais visíveis do Programa Bicicleta Brasil tem sido o crescimento da quantidade de ciclovias espalhadas pelo país. Conforme levantamento do ministério, o Brasil dispunha, em 1999, de 350 quilômetros de ciclovias. Em 2002, a extensão das vias exclusivas para as bicicletas já havia saltado para 600 quilômetros. Em 2007, as ciclovias mais que dobraram, atingindo 1.505 quilômetros.
   
O programa não conta com mecanismos diretos de financiamento para as obras de ciclovias. Mas se vale de outros programas coordenados pela Secretaria de Mobilidade Urbana (SeMOB) do ministério: Programa Pró-Transporte, Programa de Infraestrutura para Mobilidade Urbana (ProMOB) e Programa Mobilidade Urbana.
   
Segundo dados do Ministério das Cidades, entre 2005 a 2008 foi repassado um montante de R$ 275,2 milhões no âmbito do Programa Mobilidade Urbana. Na ação de Apoio a Projetos de Circulação Não Motorizada foram repassados R$ 12,2 milhões e, na ação de Ciclovias Integradas a Rede de Transporte Público, outros R$ 4,4 milhões. Nas duas ações, foram contemplados 57 projetos - incluindo, aí, projetos destinados à circulação de pedestres e de portadores de deficiências físicas.
   
Curitiba é a pioneira na introdução de ciclovias, com os primeiros trechos dos atuais 100 quilômetros de vias exclusivas para bicicletas tendo sido implantados ainda nos anos 70. A partir da elaboração, em 2009, do Plano de Mobilidade, a expectativa é que sejam implementados no curto e médio prazos outros 300 quilômetros de ciclovias na capital do Paraná.
   
"O plano de mobilidade definiu as prioridades no transporte em Curitiba: em primeiro lugar vem o pedestre; depois, a bicicleta; em terceiro, o transporte público e somente então o transporte individual", diz o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), Cléver de Almeida. Segundo ele, a bicicleta tem participação de 5% entre os modais de transporte na capital paranaense, enquanto que os transportes públicos respondem por 45%. "A ideia é dinamizar o uso da bicicleta para o transporte diário, e não somente para o lazer, como vinha acontecendo até há pouco tempo", afirma Almeida.
   
A expectativa é de que esse processo tenha início com a revitalização dos 100 quilômetros de ciclovias. "Já temos cerca de R$ 4 milhões previstos para a recuperação asfáltica e para a sinalização das ciclovias", diz ele. Almeida acrescenta que ainda não há um cálculo dos volumes de investimentos a serem aplicados na construção de novas ciclovias. "Faremos os projetos aos poucos", diz ele.

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