domingo, 29 de junho de 2014

Falta de manutenção e difícil acesso são queixas sobre serviço de aluguel de bicicletas

28/06/2014 - O Globo

RIO — Ao sair da casa da irmã na Glória, a mineira Cristina Torres planejava levar o marido, o sueco Olle Rosendahl, para um passeio de bicicleta pela orla. O casal, que vive na Austrália e está no Rio para acompanhar a Copa, já havia superado o primeiro obstáculo para usar o sistema Bike Rio, graças ao smartphone emprestado pela sobrinha. Cristina e Olle, contudo, não esperavam ter que consertar uma das bicicletas para poder iniciar a pedalada na manhã do último dia 18.

Antes de se ver obrigado a recolocar a corrente da bike que havia acabado de retirar na Praça Luís de Camões, o casal percorreu duas estações. Na primeira delas, no Largo da Glória, encontrou uma com o pneu traseiro vazio, outra sem a corrente e a terceira indisponível, mesmo sem problema aparente. No Catete, uma estava sem o selim.

Por duas semanas, uma equipe do GLOBO percorreu estações do Bike Rio e usou o serviço nos bairros de Glória, Catete, Flamengo, Laranjeiras, Lapa, Botafogo, Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon. Em geral, os usuários defendem o serviço, mas sugerem o aumento do número de estações e bicicletas e, sobretudo, a melhoria na manutenção e também no sistema operacional, que depende da qualidade de sinal das concessionárias de telefonia.

Apesar das dificuldades, Cristina e o marido elogiaram o sistema, mas sugeriram que as estações do Bike Rio sejam equipadas com máquinas de cartão de crédito, como viram em Paris, Barcelona, Viena e Pequim. O sistema de bicicletas compartilhadas da empresa Samba, que explora o serviço no Rio e em outros estados, depende do emprego de um telefone celular ou smartphone, a fim de disponibilizar o serviço. Para o turista, sobretudo o estrangeiro, o roaming (capacidade de conectividade através de uma outra rede onde é visitante) torna caro o acesso ao sistema.

SISTEMA MAIS DEMOCRÁTICO

Para Peter Cabral, diretor da Samba, o modelo usado pelo Bike Rio, de compartilhamento, é mais moderno e democrático e diminui os custos de operação, por dispensar a necessidade de equipar as estações com máquinas para aceitar cartões. No Rio, o usuário paga R$ 10 por mês para usar as bicicletas, que devem ser devolvidas nas estações a cada uma hora. Em Paris, o ciclista paga um euro para retirar a bike, podendo usar o sistema por um dia, desde que pare a cada hora numa estação. Cabral sugere que o turista compre chips pré-pagos para evitar o roaming.

Foi o que fez o paraense Natalício Guimarães, em férias no Rio, e que também encontrou bicicletas danificadas e estações onde as bikes aparecem como indisponíveis:

— Além disso, no sábado passado, levei 1h30m até encontrar uma estação em Ipanema para devolver a bike.

No Arpoador, o turista não foi o único a encontrar dificuldade. Enquanto alguns usuários não conseguiam espaço para devolver as bicicletas, outros enfrentaram problemas para retirá-las. Uma fila se formou ao redor da estação, que aparecia no sistema como indisponível.

— Nos fins de semana de sol é muito difícil encontrar bicicletas nas estações. E é comum encontrar estações com problemas de conectividade. Também há bikes boas e que permanecem indisponíveis. Ligo para avisar, mas continuam presas — disse Mariana Velasco, moradora de Botafogo que usa o sistema nos deslocamentos entre casa, trabalho e faculdade.

O vendedor Ricardo Pereira Villa aponta outro problema: a atitude de algumas pessoas, que ficam sentadas nas bikes estacionadas, aguardando o fim da carência de 15 minutos:

— É um absurdo, mas já discuti duas vezes com pessoas que estavam prendendo as bikes. Permanecem ao lado até poder retirá-las novamente.

Peter Cabral admite o problema e diz que o Bike Rio vem estudando ações de conscientização do usuário para que ele não fique retendo a bike:

— Os 15 minutos são cruciais para garantir a rotatividade do veículo, que é um bem público e compartilhado. A filosofia do sistema é baseada no princípio do compartilhamento, e não de aluguel.

MAIS DE 200 MIL USUÁRIOS

Quanto à manutenção, Peter Cabral diz que a maior parte dos danos é decorrente do uso do sistema, que conta com cerca de mil bikes em 102 estações: 94 em operação, três em manutenção, devido a obras da prefeitura, e cinco que serão ativadas nos próximos dias:

— São mais de 200 mil usuários cadastrados e mais de 3,15 milhões de viagens desde a inauguração, em outubro de 2011. O percentual de danos fica em torno de 12%, dentro dos padrões internacionais. Quanto aos problemas de conectividade, estamos estudando formas de diminuir a dependência das operadoras de telefonia.

Por nota, a prefeitura informou que realiza vistorias semanais nas estações do Bike Rio. Já as reclamações recebidas são encaminhadas à empresa. Quando alguma irregularidade é encontrada, a concessionária tem prazo de até 72h para realizar o reparo. Se a notificação não for atendida, aí sim é aplicada a multa. Mas até agora a Samba tem atendido às solicitações, informa.

SISTEMA CHEGOU A SER SUSPENSO

No início da implantação do sistema de aluguel de bicicletas, a Serttel, então concessionária do sistema no Rio, chegou a suspender o serviço por três meses, porque 56 bicicletas — do total de cem, na época — tinham sido furtadas em 15 dias. A polícia recuperou, dias depois, 28 das bikes numa operação nas favelas Mandela e de Manguinhos. Após o retorno do serviço, com um reforço no número de bicicletas para um total de 150, em março de 2010, os furtos voltaram a ocorrer. Em dois meses, mais 17 bicicletas foram levadas por ladrões.

O problema de furtos não é exclusivo do projeto carioca. O Vélib, sistema de aluguel de bicicletas de Paris, que inspirou a iniciativa no Rio, também enfrentou a ação de ladrões. Criado em 2007, o Vélib chegou a ter 80% das 20 mil bicicletas iniciais roubadas ou danificadas em dois anos de operações. 

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