sábado, 2 de maio de 2015

Ciclovias elevam venda bicicletas em 30%

30/04/2015 - Valor Econômico

O mercado de fabricação e venda de bicicletas quer crescer embalado pela criação de novas ciclovias nas cidades. Pequenos e médios fornecedores ouvidos pelo Valorestimam que o volume de entregas aumentou 30% em 2014 ante o ano anterior por conta do anúncio de mais vias para os ciclistas. Para dar conta dos pedidos, alguns empresários ampliaram o quadro de funcionários das fábricas em 20% e elevaram o número de revendedores em 45%. Modelos elétricos também estão na mira dos desenvolvedores, que apostam em lojas on-line para expandir as entregas. Levantamento do jornal "Folha de S.Paulo" indica que, até 2016, as pistas para ciclistas no Brasil devem somar 3,1 mil quilômetros, dos quais 1,4 mil quilômetros ainda serão criados.

Segundo a Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), houve um crescimento no mercado de categorias de maior valor agregado, como bicicletas para recreação, esporte e mobilidade urbana. Estes segmentos representavam 26,6% do total, em 2006. Em 2013, subiram para 40,6%. A frota nacional é estimada em mais de 70 milhões de unidades, com produção anual acima de quatro milhões de peças.

O empresário Tito Caloi, diretor da Cairu PMA, que produz e vende mais de 50 modelos das marcas Tito e Groove, aponta um salto de 30% nas vendas em 2014 por conta do desenvolvimento das ciclovias. "Houve uma maior demanda por opções urbanas", diz Caloi, que trabalhou na fábrica de bicicletas que leva o nome da família até 1999, quando a empresa foi vendida.

A Cairu PMA, com 120 funcionários, tem fábrica em Mococa (SP) e deve produzir 35 mil unidades em 2015. "Com a maior procura, preparamos a planta para o crescimento da oferta e ampliamos a rede de lojistas." As bicicletas custam de R$ 550, nas versões para crianças, até R$ 9,5 mil, valor de uma mountain bike com quadro de carbono. Para dinamizar os negócios, mostrar lançamentos e reunir revendedores, ele montou uma loja conceito, a AdoroBike, em São Paulo (SP). O site da loja também oferece bicicletas, peças e acessórios.

A Sense Bike, com fábrica em Manaus (AM), tem capacidade instalada de 40 mil unidades convencionais e elétricas por mês. Produz sete modelos, sendo três elétricos e duas versões convencionais. As bicicletas tradicionais custam de R$ 1,3 mil a R$ 2,6 mil e as movidas a energia valem R$ 3,8 mil. "Desde o início de 2014, quando mais prefeituras iniciaram projetos de ciclovias, houve um aumento de cerca de 30% na demanda, nas capitais", diz o executivo de vendas Caio Ribeiro.

A Sense aumentou o quadro de funcionários em 20% e em 45% o número de revendedores. "Finalizamos 2014 com 80 revendas e pretendemos terminar 2015 com 300 parceiros." O faturamento atingiu R$ 4 milhões em 2014, o dobro de 2013, quando funcionava como projeto piloto. O potencial em 2015 é de R$ 10 milhões.

A fabricante de calçados Paquetá vende unidades feitas na China, com marca própria, a Burnett, em 31 lojas da bandeira Paquetá Esportes, em oito Estados. "Também temos o canal virtual, com entrega nacional", diz Rodrigo Muniz, comprador responsável pela categoria de ciclismo da empresa. O portfólio de 2015 contempla 12 modelos, mas há planos para acrescentar mais três em 2016. Os preços são de R$ 1 mil a R$ 3 mil.

Com a demanda acelerada, houve falta de produto nas lojas. "Tivemos que readequar pedidos com fornecedores, mas concluímos 2014 com um crescimento de cerca de 70% nas vendas." Este ano, o plano é investir até 10% do faturamento da categoria no desenvolvimento de novos modelos.

Com a ajuda de programas de fomento, investidores privados e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia (Senai-BA), a Guell está desenvolvendo bicicletas e patinetes híbridos, que misturam motor elétrico à propulsão humana. Segundo o sócio Yuri Berezovoy, a empresa montou estrutura em São Paulo para o desenvolvimento e manufatura dos quadros e conta com parceiros de design na Inglaterra e no Rio. "No segundo semestre, vamos lançar uma série de 50 unidades para entusiastas e colecionadores."

Cresce a procura por roupas especiais

Com mais ciclovias e maior procura por bicicletas, empresas que desenvolvem roupas e acessórios para ciclistas têm planos de expansão. A marca Velô, de São Paulo (SP), pretende chegar ao Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Salvador (BA) e Recife (PE). Já a gaúcha Cuore Veste Bici vai aumentar a oferta de produtos, com novas linhas de agasalhos e jeans. Estabelecimentos que reúnem bar, café, serviços de consertos e venda de produtos também aproveitam a chegada de novos consumidores no mercado.

Criada em 2014 pelas sócias Cláudia Weingrill, Nina Weingrill e Camila Silveira, a marca Velô lança duas coleções ao ano, com um volume de 1,2 mil peças dirigidas para ciclistas urbanos. "Há opções de R$ 30 a R$ 380", diz Nina, filha de Cláudia e amiga da estilista Camila. As roupas são vendidas via e-commerce e em bike cafés, voltados para fãs do ciclismo. Além de alternativas básicas para a prática de esportes, a cartela de produtos inclui calças, saias, blazers femininos e capas de chuva para homens.

Segundo Nina, as peças são feitas com tecidos leves, que secam rápido e não amassam com facilidade. Também oferecem proteção UV e acabamento bacteriostático, que inibe a proliferação de bactérias e odores. Para isso, utiliza material homologado pela Rhodia e a Invista, empresa de fibras têxteis.

Este ano, o plano é investir até R$ 200 mil na expansão da empresa. As vendas estão restritas a São Paulo, mas a ideia é chegar a mais cinco capitais. "Queremos fazer parcerias de criação com empresas que tenham o mesmo público ou com um grande varejista, depois de ganhar escala de produção."

Com sede em Porto Alegre, a Cuore Veste Bici investe em moda masculina e feminina para o ciclismo urbano, desde 2013. Segundo Roger Almeida Cardoso, sócio responsável pela administração e marketing da empresa, o volume da produção não pretende ser alto. "Como adotamos políticas como o comércio justo e o fomento à economia local, adaptamos as entregas à capacidade produtiva de grupos de costureiras", afirma.

O primeiro ano de fabricação foi encerrado com uma média de 400 peças, com preços de R$ 50 a R$ 120. O faturamento em 2014 alcançou cerca de R$ 20 mil. Cardoso diz que as mercadorias são vendidas pelo site da empresa, em cafés e lojas do segmento em Santa Catarina e São Paulo, além do Rio Grande do Sul. "Os maiores índices de vendas aparecem em locais onde o uso da bicicleta para a mobilidade urbana está difundido."

Para Alberto Tarazona, diretor comercial da Netshoes, site que recebe, em média, 30 milhões de usuários ao mês e oferece cinco marcas de vestuário e acessórios para ciclistas, os pequenos fabricantes podem ganhar maior visibilidade entre os consumidores com o tripé variedade, qualidade e preços competitivos. "Com o crescimento do mercado, é interessante oferecer linhas completas, com sapatilhas, itens com tecidos tecnológicos para a absorção de suor, mochilas e peças casuais", diz.

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