quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Com 3 km, ciclofaixas 'fantasmas' do centro do Rio não atendem ciclistas

14/01/2016 - UOL



Paula Bianchi / UOL

Em fevereiro de 2014 o prefeito Eduardo Paes (PMDB) inaugurou três ciclofaixas de cerca de três quilômetros no centro do Rio de Janeiro, parte de um projeto maior, de 33 quilômetros, que daria conta de toda a região fazendo também as ligações com as zonas norte e sul da cidade. Dois anos depois, ao invés de crescer, as ciclovias, cortadas por obras e com trechos sem preservação, encolheram.

Na sexta-feira (8), o UOL percorreu as ciclofaixas da região por volta das 9h, horário de pico da chegada de trabalhadores. São poucos os ciclistas que se aventuram pelas faixas que, perdidas pelo meio da região, ganham ares de "ciclovias fantasmas" -- durante as três horas em que permaneceu nas ciclovias, a reportagem contabilizou menos de dez bicicletas usando as rotas.

Em muitos momentos, as ciclovias do centro perdem a sua função, sendo tomadas por pistas ou prolongamentos da calçada por motoqueiros e pedestres. As rotas também terminam de forma abrupta e, com frequência, são interrompidas por obras.

Morador de Bangu, na zona oeste da cidade, o auxiliar de almoxarifado Anderson Nascimento combina diariamente trem e bicicleta para chegar até o trabalho. Nos cerca de seis quilômetros que percorre sobre duas rodas entre a Estação Leopoldina, no início da avenida Presidente Vargas, e a região do Castelo, no começo do centro, ele reclama que quase não existem ciclovias. "As poucas que tem, eu uso", diz ele, que fazia o trajeto pela rua, já que parte do trecho que costumava utilizar foi apagado com a colocada de um novo calçamento em frente ao Museu Histórico Nacional.

No Mapa Colaborativo da CPI das Bikes, projeto interativo criado pela Câmara de Vereadores com a ONG Meu Rio para mapear os problemas enfrentados por quem usa a bicicleta como meio de transporte na cidade, a principal reclamação dos internautas sobre a região é justamente a ausência de ciclovias. "Eu gostaria muito que tivessem ciclovias que levassem aos lugares principais do centro – à Lapa, à rodoviária, ao aeroporto", diz Nascimento. "Essas ciclovias não são interligadas. Elas começam em um ponto e não têm um lugar certo para acabar."

Moradora do centro, a restauradora e cicloativista Darlin Carvalho considera as estruturas que existem um ganho, mas "limitadas". "Se houvesse uma ligação mais confortável para os trabalhadores que pensam em um trajeto pequeno [de bicicleta], isso desafogaria o trânsito de uma forma descomunal", diz.

Darlin lembra ainda a falta de atenção à ligação com a zona norte – os poucos trechos de ciclofaixas existentes partem todos do sentido zona sul-centro. "Se a gente consegue demolir uma perimetral, como é que a gente não consegue abrir uma passagem mais confortável para o ciclista que vem da zona norte para o centro?", questiona.

No site da prefeitura, um documento batizado de "Ciclovias, ciclofaixas e faixas compartilhadas: obras e projetos 2015/16" cita 29,8 quilômetros de ciclofaixas e faixas compartilhadas a serem construídas na região central. Orçada em R$ 13,4 milhões, cerca R$ 450 mil por quilômetro, a obra, prevista para ficar pronta em 2016, está marcada com o status de ante-projeto e parece longe de sair do papel.

Ao contrário do que disse Paes à época da inauguração, quando definiu as ciclovias da região e a bicicleta como uma "medida importante para amenizar o impacto que vamos viver nesses dias" frente ao "caos" causado pela revitalização do centro e da região portuária, a Secretaria de Meio Ambiente informou que as faixas para bicicletas só serão construídas após a conclusão das obras no bairro a fim de "minimizar o transtorno com mais interdições das vias e o impacto no trânsito", mas não soube precisar um prazo para que isso aconteça.

Desde 2013, os acessos ao centro do Rio vêm sofrendo alterações. A primeira foi a derrubada do elevado da Perimetral, até então um dos principais acessos ao centro –os túneis que a substituirão ainda não foram concluídos. Em 2014, a construção do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), de 28 quilômetros de extensão, interditou outras vias importantes do bairro.

As obras do BRT Transbrasil também aumentaram o trânsito na avenida Brasil, um dos principais acessos ao centro. A revitalização da região estava prevista para ficar pronta antes das Olimpíadas, mas a prefeitura já informou que não será capaz de concluir o cronograma integralmente.

Parte de um serviço de entregas de bicicleta, Martin Ditsios lamenta a demora. "O tempo inteiro a gente fica disputando com carro, ônibus, até pedestres. Não é uma disputa equiparável. Não temos um exoesqueleto", diz.

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