quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ONGs estimulam soluções coletivas e conscientização

12/11/2014 - Valor Econômico


As cidades brasileiras deram um nó difícil de desatar. A opção preferencial pelo carro agravou a imobilidade urbana nas metrópoles do país. O caos reina no trânsito. Em Campinas, no interior de São Paulo, 42,9% das pessoas negligenciam o transporte coletivo. Na capital paulistana, o índice é um pouco menor: 29,5%. Em Porto Alegre, o uso do transporte motorizado individual chega a 25,8%. No Rio de Janeiro, esse percentual é de 16,5%. Os dados são da ONG Mobilidade Urbana Sustentável (Mobilize Brasil) que fez um estudo sobre a divisão dos modais nas principais cidades brasileiras. É que andar de carro está proporcionalmente mais barato do que usar ônibus, trem, metrô ou barcas.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou que, em duas décadas, as tarifas de transporte coletivo subiram 685% contra um reajuste de 423% no preço da gasolina ou do álcool. Alternativas criativas, como estímulo a pequenas caminhadas, carona compartilhada, uso da bicicleta, skates, patins e outros modais alternativos, são opções para desafogar o trânsito, mas elas não dão conta do tamanho do problema.

O paulistano Rodrigo Gonçalves cansou de perder tempo no engarrafamento. Morador do bairro do Campo Belo, ele já levou três horas para chegar de carro ao trabalho, no Morumbi. À época, trabalhava na área de planejamento estratégico da Honda Motors. Há quatro anos adotou a bicicleta. O percurso passou a ser feito em 15 minutos, embora chegasse suado no trabalho. Decidiu pensar em alternativas, mergulhou no tema e desenvolveu o projeto: "Dress Me Up" (Vista-me mais rápido, numa tradução livre), vencedor do prêmio "Mobilidade Minuto", na categoria "Novas Alternativas de Organização Comunitária e do Trabalho".

O concurso foi organizado pelo Instituto Cidade em Movimento (IVM, na sigla em francês do Institut pour la Ville em Mouvement), no final de outubro. O projeto é uma estrutura pós-pedalada: um bicicletário, para 72 bicicletas, onde o ciclista sai de banho tomado. A primeira unidade foi instalada na Avenida Luis Carlos Berrini - onde se perde, em média, 20 minutos para sair do estacionamento dos prédios do centro empresarial. A estrutura é composta por cinco cabines individuais e armários para que as pessoas guardem equipamentos, como mochila e capacetes. O bicicletário oferece toalha e sabonete líquido.

Para um dos jurados, o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/ São Paulo), José Armênio, o equipamento urbano é uma resposta a quem alega falta de garagem e vestiário como desculpa para não adotar bicicleta como meio de transporte. O custo de implantação é de R$ 110 mil. Gonçalves, que pediu demissão do emprego para se dedicar exclusivamente ao projeto, já estuda franquias para outras regiões da cidade e também para o Rio de Janeiro.

O Caroneta, criado pelo engenheiro Márcio Nigro, em 2011, foi outro projeto premiado. É um site brasileiro de incentivo à carona. O portal é voltado para empresas: reúne 1.100 companhias e têm 265 mil pessoas cadastradas. A iniciativa não é pioneira. Os precursores foram os sites UniCaronas e Caroneiros, ambos lançados por alunos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2007, e inspirados no francês Covoiturage e o americano Zimride.

A ONG Mobilize Brasil lançou recentemente a campanha "Adote uma Ponte". O objetivo foi sensibilizar pedestres, cadeirantes e ciclistas do perigo que correm ao cruzar as pontes de São Paulo. A Secretaria Municipal de Transportes anunciou projetos para 12 das 28 pontes existentes na cidade. A primeira foi a Ponte da Casa Verde, sobre o rio Tietê. A prefeitura também anunciou a meta de fazer a ligação cicloviária das zonas Norte, Oeste e Sul ao centro da cidade. Até 2015, a prefeitura pretende implantar 400 km de ciclovias. Hoje, são 82,9 km de vias.

Para desestimular o uso do carro, a prefeitura de Vitória (ES) disponibilizou para os ciclistas um ônibus para que eles possam cruzar a Terceira Ponte, que liga Vitória a Vila Velha. É um trecho de 4 km, onde não havia espaço na pista para a convivência com as bicicletas. O ônibus sai a cada 15 minutos no horário do rush.

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