domingo, 3 de fevereiro de 2013

Cariocas passam a usar skate como meio de transporte

02/02/2013 - O Globo

Esporte conquista moradores do Rio, que usam as pranchas até para ir ao trabalho e à escola

02/02/2013 - 08h00 | Ludmilla de Lima

O advogado Último de Carvalho anda de skate em Ipanema Pedro Kirilos / O Globo
RIO No ônibus, no metrô, enterrado na areia da praia, nas mochilas dos estudantes e no caminho para o trabalho. Por todo lado, só dá skate neste verão. Num giro rápido pela orla, pela Lagoa e pelo Aterro do Flamengo, percebe-se que a prancha sobre quatro rodinhas é mais do que um modismo da estação mais charmosa no Rio: virou uma maneira de curtir o visual da cidade, de manter a forma e, mais do que nunca, um meio de transporte para ir ao trabalho e à escola, por exemplo. A atividade de andar de skate cativou gente de todas as gerações e conquistou de vez as meninas, que adotaram as remadas no asfalto também como forma de se locomover sem o estresse do trânsito diário.

A mesma destreza demonstrada quase que exclusivamente por skatistas homens no passado agora é vista em garotas de biquíni, shortinho jeans e camiseta. Neste verão, os skates definitivamente saíram do gueto das pistas dedicadas à modalidade para invadir as ciclovias e as pistas de rolamento, da Zona Sul à Zona Norte. O estilo grunge por muito tempo associado ao esporte agora convive com outro, mais solar.

Venho percebendo esse movimento de adesão das meninas ao skate nos últimos dois, três anos. Mas ele era restrito à turma mais inovadora. Agora a massa aderiu. O ano de 2012 já foi um retrato disso. E neste verão já está todo mundo treinado e fazendo bonito sobre o skate afirma Renata Abranches, do blog RIOetc e autora, junto com o marido, Tiago Petrik, do livro A carioca guia de estilo para viver a Cidade Maravilhosa.

Os preferidos dos cariocas que usam o equipamento fora das rampas são os longboards. Os skatões são voltados para quem quer esporte + passeio + meio de transporte. Mas hoje, nas vitrines das lojas especializadas, em especial na Galeria River, em Copacabana, os miniskates coloridos são o destaque. Levinhos, podem ser carregados na mochila. Julina Cury, de 26 anos, tentava se adaptar ao skatinho retrô ele era sucesso nos anos 70 na ciclovia de Ipanema na última quinta.

A estudante de administração pegou o skatinho emprestado do namorado, o francês Florian Savin, de 23 anos. De biquíni, sainha e descalça, ela se equilibrava sobre a novidade de plástico:

Este skatinho parece mais fácil. Estou tentando perder o medo contou Julina, mostrando as marcas do seu lado radical: cicatrizes nos braços e nas pernas, frutos de uma queda. Caí de um long numa ladeira.

Florian já está acostumado com o miniskate. No Rio para um intercâmbio na UFRJ na área de engenharia civil, o parisiense agora roda no brinquedinho diariamente pela cidade:

É muito melhor andar de skate no Rio, por causa do sol, do calor e das pistas na beira da praia.

Para o bumbum é excelente

A corretora Vanessa Araújo, de 30 anos, deixou para atrás a malhação entre paredes e agora mantém a forma sobre um long.

O skate trabalha perna e bunda. Ainda mais na pedalada (ou remada): para o bumbum é excelente! diz Vanessa, que na quinta-feira foi do Leme ao Leblon cheia de estilo: óculos escuros da moda, macacão de lycra e All Star preto de cano longo.

As filhas de Vanessa Bettina, de 4 anos, e Ana Lívia, de 10 acompanham a mãe de vez em quando.

O melhor do skate é a serotonina, a sensação de prazer e liberdade. Sabe quando você acha que vai cair e não cai? Fora que você não está preso dentro de uma academia completa a corretora, que circula por aí com o namorado, o advogado Último de Carvalho, de 55 anos.

O primeiro passo de quem aprende a andar de skate é se equilibrar sobre o shape, que é a prancha na linguagem do esporte. Há um ano, Último adotou o esporte por recomendações médicas, por ter diabetes. Seu longboard veio da capital da modalidade a Califórnia e ganhou uma espécie de malinha, que ele próprio adaptou. É uma caixinha de plástico grudada na prancha, dentro da qual o advogado carrega chaves, carteira, água para lavar os pés depois da praia e camiseta. O skate para Último funciona como um meio de transporte: quando está disposto, vai de Ipanema ao Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro, e lá pega um táxi até o escritório, no Centro.

O skate é uma delícia, dá um surf feeling. É como pegar onda direto por uma, duas horas diz.

De skate, você cruza a cidade

Para Renata, do blog Rio RIOetc, o skate caiu como uma luva no estilo de vida do carioca, que hoje sente mais segurança para circular pela cidade:

Você sai da praia e vai de skate para o chopinho, pode carregá-lo na garupa de uma bicicleta ou debaixo do braço na integração do metrô. De skate, você cruza a cidade. Tem muito a ver com a cidade do Rio.

Um dos pontos positivos do skate é o preço, mais acessível que o do stand up paddle, por exemplo. Na Galeria River, o valor do miniskate está em torno de R$ 250. Já o street, usado para manobras nas rampas, custa cerca de R$ 150. Os longboards californianos podem ultrapassar os R$ 800.

Rogério Ferri, vendedor da loja Arpex Homey, na Galeria River, constatou uma procura maior do ano passado para cá:

As meninas chegavam aqui, e eu perguntava: Quer ver patins? E elas: Não, quero skate mesmo.

Na hora de comprar o seu, Gabriel Mello, de 16 anos, não economizou: adquiriu pela internet um skate elétrico que custou R$ 1.400. O equipamento chama a atenção por ser bem maior e mais alto do que os modelos tradicionais. Com um controle remoto, o skatista regula a velocidade e aciona o freio. A máquina de Gabriel atinge até 40km/h.

Moro no subúrbio (na Vila da Penha) e vim tirar uma onda em Copa dizia, na quinta.

Eudo Júnior, de 34 anos, usa seu long para ir à praia. Mas, para não desgastar o skate, há dias em que pega emprestado um com uma operadora de telefonia, que oferece de graça nas praias o equipamento a clientes cadastrados.

Ando desde moleque e, ultimamente, com mais frequência diz Eudo, que é vendedor da Armani e usa muito a prancha com rodinhas para ir do Flamengo, onde mora, até o futevôlei em Copacabana e Ipanema. O skate é superdemocrático, há pessoas de todas as idades praticando. Vejo famílias inteiras andando na orla.

O esporte bombou tanto no Rio que a Farm captou o gosto das clientes e criou skates de menina, com estampas exclusivas. A marca também já lançou um editorial de moda de roupas para skatistas e produziu uma websérie com as Longboard Girls Crew. São quatro episódios, sempre às quintas-feiras, sendo que o primeiro foi ao ar esta semana no Facebook da Farm.

Bruno Funil, da União Skate Rio (USR), aponta o bom desempenho de brasileiros no esporte como um dos responsáveis por esse boom. O Rio é um parque de diversões para os apaixonados das manobras radicais: nas contas de Renê Nunes, presidente da USR, são entre 40 e 50 pistas na cidade.

Presidente da Federação de Skateboard do Estado do Rio, André Viana ressalta que a cidade tem a melhor pista do Brasil, a do Parque Madureira, com 3.850 metros quadrados e padrão para eventos internacionais. E há outras pistas por vir: o Parque Radical da Lagoa, projeto da prefeitura que ocupará o espaço da antiga Estação do Corpo, contará com duas áreas para o esporte.

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