sexta-feira, 29 de maio de 2015

Ciclofaixa começará a ser testada na Marquês do Paraná

29/05/2015 - O Globo

Longe de ser apenas um desejo apaixonado como sugere Lulu Santos na canção "O último romântico", para os ciclistas de Niterói reunir a Zona Norte à Zona Sul é uma necessidade, que agora poderá ser possível. Testada no último dia 8, a ciclofaixa provisória da Avenida Marquês do Paraná, ligando as avenidas Roberto Silveira e Amaral Peixoto, será montada periodicamente, em intervalos de um mês e, depois, uma semana, até que se torne fixa. No próximo dia 14, o traçado será segregado com cones para nova avaliação. Até o fim do ano, a conexão com a Zona Norte também será feita através da ciclofaixa na Rua São Lourenço. A prefeitura ainda prepara a campanha "O trânsito é feito de pessoas como você", que vai tomar as ruas e a mídia a partir de 20 de junho para reforçar a harmonia no espaço público

Um estudo do grupo Mobilidade Niterói, concluído no último dia 8, apontou a ligação das ciclofaixas da Roberto Silveira e Amaral Peixoto como fundamental para a mobilidade. Foi feita a contagem de ciclos (bicicleta, patins e skate) na Avenida Marquês de Paraná, no trecho entre o final da Roberto Silveira até a Rua Arídio Martins, com o objetivo de analisar os efeitos da ciclofaixa temporária instalada para o Dia Mundial de Bike ao Trabalho. Em comparação com a contagem feita em 21 janeiro, ficou constatado um aumento de 47% no fluxo de ciclos. Em janeiro, no mesmo período do dia, durante os horários de rush, passaram 58,5 ciclos por hora. No dia 8 deste mês, a média foi 86.

ICARAÍ É O 1º BAIRRO DE ORIGEM DOS CICLISTAS

A pesquisa é emblemática quanto à necessidade de ligar as ciclofaixas: quando a estrutura que dá maior segurança ao ciclista foi montada, o crescimento no fluxo foi significativo. O levantamento do grupo também mostrou que Icaraí é o primeiro bairro de origem dos ciclistas ( 19,65%), seguido de Santa Rosa ( 15,62%). E também o segundo bairro de destino (18,14%), ficando atrás apenas do Centro (47,61%).

— É fundamental que o Centro seja conectado a Icaraí e à Zona Norte. A maioria dos ciclistas de Niterói parte de Icaraí para o Centro e 15% saem da Zona Norte, em trajetos que não têm segurança — ressalta Sérgio Franco, membro do grupo Mobilidade Niterói.


O trecho da Avenida Marquês de Paraná, entre as ruas Doutor Celestino, no Centro, e Miguel de Frias, em Icaraí, é um ponto crítico. Na última terça-feira, a equipe do GLOBO-Niterói contou, num intervalo de dez minutos, 16 ciclistas aventurando-se em meio a carros e ônibus. Segundo a prefeitura, o processo de implantação de uma ciclofaixa no trecho vai ser feito aos poucos.

— Mudanças viárias interferem diretamente na vida e no hábito das pessoas, por isso não podemos fazê- las de uma hora para outra. É preciso que as pessoas se acostumem. Por isso, vamos fazer testes mensais, que depois passarão a ser semanais, até que seja feita uma ciclofaixa permanente ali — explica o vice-prefeito Axel Grael.

TIPOS DE SEGREGADORES SERÃO TESTADOS

A campanha publicitária da prefeitura terá como foco o convívio entre pedestres, ciclistas e motoristas nas ruas. Spots de rádio, anúncios em bancas de jornais, laterais de edifícios, na internet e na mídia impressa vão disparar mensagens de conscientização. O objetivo é diminuir a tensão entre os usuários de diferentes transportes, mostrando que todos são iguais apesar da condição conflituosa a que o estresse do trânsito os impõe. A prefeitura enviará ainda à Câmara dos Vereadores um projeto de lei que estabelece as regras para a implantação de ciclofaixas e sinalização das vias na cidade. O texto prevê regras e parâmetros para diferentes tipos de ruas e logradouros, estabelecendo um padrão para a malha viária de Niterói.

Alvo de queixas frequentes de ciclistas e motoristas, os tachões que segregam as ciclofaixas das avenidas Roberto Silveira e Amaral Peixoto estão com os dias contados. O equipamento usado para que veículos motorizados não invadam as faixas exclusivas se solta com frequência e será substituído. A prefeitura planeja colocar um novo segregador. O modelo será um dos que foram testados no percurso da ciclovia da Rua Timbiras, em São Francisco. Lá, foram usados vários tipos, para que pudesse ser avaliado qual é o mais adequado para diferentes situações.

O estudante Daniel Marinho passa pela ciclofaixa da Avenida Roberto Silveira diariamente e comemora a mudança. Ele espera que o novo equipamento seja mais resistente:

— Ainda bem que vão dar um jeito nisso. Muitos se soltaram na primeira semana em que foram colocados. Além disso, não servem de nada, porque não impedem que motos e até carros invadam a faixa. Os taxistas entram toda hora na ciclofaixa para pegar passageiros

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Ciclovia em Laranjeiras: colocação de placas pela prefeitura gera polêmica e dúvidas

24/05/2015 - Jornal do Brasil

Após uma longa batalha de moradores, malha cicloviária que atravessa o bairro é prometida para julho

Reivindicada durante anos pelos moradores do Cosme Velho e Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro, a malha cicloviária que vai ligar os bairros ao Centro, fazendo conexão com estações de metrô e outros modais, começa a ser construída em meio a muitos questionamentos e polêmicas. Placas de sinalização colocadas pela prefeitura no mês passado, alertando os motoristas na Rua das Laranjeiras da faixa compartilhada com as bicicletas, geraram uma acirrada discussão entre a população, que divide opiniões sobre a questão. Somente em dois pontos todo mundo concorda: que as obras da ciclovia devem chegar ao final e que a situação do ciclista no estado é de total precariedade.    

O projeto adaptado e aprovado pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, apresentado por um grupo de moradores, prevê uma estrutura de 10,4 quilômetros de ciclovias, cortando os bairros de Cosme Velho, Laranjeiras, Largo do Machado, Botafogo e Flamengo. O trecho que mais gera dúvidas da população e ciclistas é o movimentado trajeto na Rua das Laranjeiras, que tem um trânsito confuso pela quantidade enorme de linhas de ônibus, comércio, nove escolas e hospital. Prevista para final de julho, a malha foi orçada em R$ 1,7 milhão. 

A ciclovia é um sonho antigo dos moradores de Laranjeiras, especialmente para aqueles que aderiram ao transporte sustentável. Em duas rodas, as pessoas se arriscam entre carros, ônibus, pedestres e muitos obstáculos pelo caminho. Às vezes sozinhas, mas outras acompanhadas dos seus filhos menores, acomodados em cadeirinhas. E de geração em geração, o hábito das bicicletas vai ganhando espaço nas ruas cariocas, mas sem qualquer segurança ou sinalização padronizada. 


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O projeto original da ciclovia de Laranjeiras surgiu em uma sala de aula, mas precisamente do Liceu Franco-Brasileiro, localizado na Rua das Laranjeiras, via principal do bairro. Uma turma de Robótica precisava apresentar um trabalho sobre mobilidade e soluções para o trânsito na região, no ano de 2010. E assim surgiu a ideia da malha cicloviária, que priorizava o deslocamento dos alunos de casa para a escola em bicicletas, como meio de "transporte inteligente".     

Em 2011, o projeto tomou outros rumos e foi parar nas mãos de um grupo de moradores, defensores do ciclismo como meio sustentável de transporte na região. Através de mobilizações usando as redes sociais e as próprias vias do bairro, nos dois anos seguintes a ciclovia foi reivindicada em pedaladas, panfletos distribuídos nas ruas mais movimentadas, campanhas de incentivo ao morador a usar bicicleta e até através de ações culturais. Sem muito resultado, o grupo procurou a prefeitura para solicitar oficialmente a malha. 

"Várias reuniões foram realizadas com o pessoal da prefeitura. Eles visitaram todas as áreas de trânsito para bicicletas na busca de soluções", conta a administradora de um perfil no Facebook - Ciclovia Já Laranjeiras Cosme Velho -, Maysa Blay Roizman. Segundo Maysa, o grupo recebeu no ano passado a informação de que a Secretaria de Meio Ambiente havia recebido a verba para construção da malha cicloviária na região. "Acompanhamos o processo pelos trâmites da prefeitura e quando percebemos que era viável economicamente, voltamos a procurar o poder público. Enquanto isso, aqui no bairro mantivemos o diálogo com os moradores e comerciantes para operar os ajustes no projeto, com o objetivo de todos ficarem seguros quanto à estrutura da ciclovia", ressalta. 

Em alguns trechos, a via passa por calçadas e, especialmente, donos de estabelecimentos de ensino estão preocupados com a segurança dos estudantes. "O ciclista, nestas áreas de maior movimentação de pedestre, ele instintivamente diminui a velocidade e não há relatos de acidentes desta natureza. Aos poucos as pessoas foram constatando isso e se acalmando, mas ainda há dúvidas e polêmicas, que serão esclarecidas com o funcionamento do projeto", aposta a administradora.

Para Maysa, a colocação de placas de sinalização na Rua das Laranjeiras é algo positivo, pois aquece a discussão em torno do problema e todos se mobilizam para uma solução final. No entanto, ela salienta que este deve ser um primeiro passo para a implantação do projeto integral. "Seria irresponsável por parte da prefeitura apenas colocar placas. O motorista brasileiro nem tem o hábito de olhar placa de trânsito e não respeito hoje o ciclista. Então, há necessidade da ciclovia ou ciclofaixa, dependendo da área", comenta ela. 

O economista e morador do Largo do Machado, Daniel Pecorreli, de 29 anos, acredita que a precariedade na mobilidade do ciclista no Rio de Janeiro leva a esta classe a se contentar com qualquer medida mínima do governo, mas as políticas voltadas para a questão deveriam ser mais eficientes. "Em primeiro lugar, tinha que vir a ciclovia, depois o ciclista, por um ordem lógica de segurança", esclarece. Participante assíduo do perfil administrado por Maysa, Pecorreli diverge em algumas estratégias adotadas pelo movimento. "Eu não acho que tenha que aumentar o número de ciclista nas ruas para chamar a atenção das autoridades e eles tomarem uma providência, mas o contrário que deveria acontecer", salienta. 

O economista também considera positiva a colocação das placas pela prefeitura, porém, tem uma opinião sobre a condição do usuário de bicicleta na cidade. "É deprimente a situação do ciclista no Rio, a ponto de uma medida como esta da placa, mínima, a pessoa fica contente. Este é o grande problema, a gente se conformar com tão pouco e sempre aceitar este pouquinho, enquanto o governo deveria INVESTIR na segurança do cidadão", acrescentou.

Rua das Laranjeiras, Zona Sul do Rio
Rua das Laranjeiras, Zona Sul do Rio
Esta também é a visão da moradora Rosa Maria Mattos, que todos os dias atravessa a Rua das Laranjeiras para levar e buscar a sua filha de sete anos na escola. "Eu estou me sentindo mais segura com as placas colocadas, mas claro que elas não são suficientes", disse ela, acrescentando que tem aguardado ansiosamente pela ciclovia. Rosa faz este trajeto há quatro anos, usando nela e na filha os equipamentos de segurança recomendados para este tipo de transporte. No entanto, ela acredita que a prefeitura deveria INVESTIR em campanhas de educação no trânsito. "A gente comemora uma placa colocada porque a nossa situação é deplorável, de abandono total", critica a ciclista.

Com a maior malha cicloviária do país, moradores do Rio ainda reclamam de ter que andar de bicicleta usando uma estrutura precária e sem segurança. Em Laranjeiras e Cosme Velho, por exemplo, as ruas são estreitas e a falta de educação no trânsito complica ainda mais a vida dos ciclistas. Carros estacionados irregularmente, veículos em alta velocidade, tudo leva às novas infrações pelos usuários de bike, que passam a ocupar as calçadas como rota alternativa e mais segura.  

O jurista Armando da Silva Souza, da Comissão de Trânsito da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), reforça que "qualquer ação do poder público relacionada à mobilidade deve levar a uma absoluta segurança do cidadão, sem o mínimo risco para a uma criança, por exemplo, assim como o seu responsável, visando preservar o maior patrimônio do ser humano, a sua vida". Silva Souza avalia que somente colocação de placas é uma medida ineficiente para garantir a segurança do ciclista e deve ser revista para que caminhos mais prudentes sejam alcançados o mais rápido possível. 

Prefeitura garante ciclovia até julho

O diretor de Planejamento e Projetos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Altamirando Fernandes Noraes, explicou que a colocação das placas faz parte de uma das etapas de construção da malha cicloviária da região, o que tecnicamente é chamado de rotas cicláveis. Ele disse que a sinalização é para alertar os motoristas que em determinados trechos a prioridade na via é do ciclista e, desta forma, é obrigatório reduzir a velocidade e manter a distância legal da bicicleta, como recomenda o Código de Trânsito. "É o que denominamos de sinalização vertical, se o motorista não respeitar, com certeza gera multas", destacou.  

Altamirando afirmou que uma nova etapa das obras teve início esta semana, com a pintura de sinalização no asfalto, no trecho próximo ao acesso ao Túnel Santa Bárbara. Uma solução encontrada pela secretaria e adaptada ao projeto da ciclovia, visando a circulação amigável e segura de veículos e bicicletas no bairro, foi a redistribuição das faixas de sinalização no asfalto na Rua das Laranjeiras. Com a mudança, os ônibus terão três metros de faixa, ficando 2,6 metros para carros de passeio e 1,7 ou 1,8 metros para as bicicletas. "Com este padrão, vamos conseguir mais espaço para todos os meios de transporte na via", disse o diretor, estimando um prazo até julho para entrega das obras à população. 

Ciclista na Rua das Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro
Ciclista na Rua das Laranjeiras, na Zona Sul do Rio de Janeiro
O projeto de R$ 1,7 milhão inclui, entre outros INVESTIMENTOS, o recapeamento da Rua das Laranjeiras, a sinalização vertical e horizontal da via e uma campanha de divulgação e educação em torno das modificações. "Esta demanda foi da população da região, que procurou a prefeitura com um projeto para apresentar. Percebemos que os mais jovens querem aderir a este transporte sustentável, o que será muito saudável para o bairro e para desafogar o trânsito, especialmente nas zonas com colégios. Vai melhorar a qualidade de vida da população", destacou Altamirando. O diretor não descarta a possibilidade de estender o modelo para outros bairros.   

Em outras regiões da "Cidade da Bicicleta", as reclamações são as mesmas

O presidente da Federação de Ciclismo do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Santos, esclarece que o usuário de bicicleta transita na cidade dividindo espaço com os outros meios de transporte, por isso, deve sempre procurar respeitar a legislação. Ele reforça a análise de que o estado é carente de campanhas de educação no trânsito, o que poderia reduzir muito os acidentes, além de criar um ambiente urbano amistoso entre os meios de transporte. "Deveria valer em todo o estado a Zona 30, que limita a velocidade do motorista em 30 km, como acontece em ruas de Copacabana. Mas o poder público não tem dado a mínima atenção para esta questão", critica.

Mesmo distante de Laranjeiras e fora da Zona Sul, a malha cicloviária do Rio, considerado a "Cidade da Bicicleta", sofre os reflexos da falta do descaso público. "Quer emoção de verdade? Eu venho da Ilha do Governador [na Zona Norte da cidade] até Vila Isabel [também na Zona Norte] todos os dias, passando pela Avenida Brasil. Saio às sete horas da manhã", conta o ciclista Jair Martins, um dos adeptos da bicicleta como meio de transporte. Para fazer este trajeto, Jair percorre cerca de 18 quilômetros, passando por vias expressas e de trânsito intenso e pesado. 

"Eu tomo fechada toda hora, mesmo pedalando na mesma direção dos carros. Mas mesmo assim, eu acho que o espaço do ciclista não deve ser segregado. O que deve haver é respeito às leis de trânsito por todos os usuários de meios de transporte, uma sinalização eficiente e que ofereça segurança. Mas a prefeitura não investe em campanha educativa", opina o ciclista. 

Ataque faz ciclistas até desistirem das bikes no Rio de Janeiro

24/05/2015 -  O Estado de SP

RIO - Quatro cicatrizes de facadas pelo corpo, um pulmão perfurado e um trauma indelével. Atacado cruelmente por cinco jovens no Aterro do Flamengo (zona sul) há sete meses, em uma noite de sexta-feira, o auxiliar de serviços gerais Jorge Felippe Mendonça Leão, de 20 anos, funcionário de uma loja especializada em equipamento para a prática de triatlo, perdeu muito mais do que a bicicleta, que comprara dois dias antes.

"Agora só ando de metrô. Eles queriam me matar por nada. Foram três facadas, eu caí e eles fugiram com a minha bicicleta. Quando levantei para pedir ajuda, em estado de choque, um deles viu, já longe, saltou da bicicleta e veio correndo atrás de mim, dizendo: 'eu não acredito que você levantou, agora você vai aprender'. Fisicamente, me recuperei e voltei a trabalhar, mas psicologicamente, não", contou Leão, que usava a bicicleta como meio de transporte entre a casa, no Santo Cristo, centro do Rio, e o trabalho, em Ipanema, trajeto de 14 quilômetros.

O jovem reviveu o drama ao saber do assassinato do médico Jaime GOLD, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na terça. Gold era cliente da Barcellos Sports, loja em que Leão trabalha há um ano, referência na zona sul por ter sido fundada pelo ex-atleta olímpico Armando Barcellos, considerado uma lenda do triatlo."Até pensei em comprar uma bicicleta nova, mas depois do que aconteceu com o Jaime,desisti."

O modelo de Leão, para passeio, era dos mais baratos disponíveis na loja, focada em material trazido dos Estados Unidos. Custou R$ 1.400. Os mais caros, de fibra de carbono, que podem ter 4,5 quilos – enquanto as de alumínio pesam o triplo –, com design para alta performance, chegam a R$ 80 mil.

Os assaltos constantes têm levado os ciclistas a procurar cada vez mais os seguros especializados. "Não temos a cultura do seguro no Brasil, mas ainda assim o número é crescente. Quanto mais casos, mais nos procuram", disse Luiz Fernando Giovannini, ele próprio dono de 13 bicicletas, sócio da corretora Estar Seguro, que cobre principalmente modelos que custam de R$ 5 mil a R$ 10 mil – no caso das mais simples, o segurado paga 10% do valor da bicicleta.

Segundo ciclistas ouvidos pelo Estado, os assaltantes de oportunidade, que procuram qualquer modelo, para revenda rápida no mercado negro, atuam em áreas de lazer populares na cidade, como o Aterro e a Lagoa. Já aqueles com olhar treinado, cuja preferência são as bicicletas para competição, preferem os pontos frequentados por atletas, caso de estradas e da Vista Chinesa, mirante no Parque Nacional da Tijuca – áreas em que o policiamento é pouco ou nenhum.

André Melo, de 40 anos, vendedor da Barcellos Sports, reconheceu o corpo ensanguentado de Jaime GOLD nas imagens de TV, pelos acessórios e pela roupa: o boné, a viseira e o conjunto esportivo de compressão para triatlo haviam sido comprados lá, por R$ 1 mil. "A roupa custava mais do que a bicicleta, que não deve valer mais do que R$ 500", afirmou.

Pesar. Morador de Ipanema, Jaime era conhecido na loja por ser bem - humorado e agitado, e por gostar de pedalar a caráter. O clima na Barcellos é de pesar pelo assassinato do médico. Gerente da loja, Cesar Sardenberg Junior, de 38 anos, lembra que só existe o mercado paralelo porque há ciclistas que preferem comprar produtos mais baratos, sem certeza da procedência."Tenho me manifestado contra classificados na internet e grupos de compra e venda. Quem compra tem de exigir nota fiscal. O que aconteceu com o Jaime é diário, o diferente foi matarem. A gente não anda na ciclovia, prefere estar no meio dos carros e ser atropelado a ser assaltado. Isso é uma máxima do ciclista do Rio."

Sem negociação. Dono de uma mountain bike de R$ 4 mil, seu meio de transporte diário, Kiko Limmah, ator e cinologista, foi assaltado em 1996 e lembra que conseguiu negociar com o assaltante a entrega do relógio e dos documentos. "Hoje não é mais assim. Fiquei 17 anos sem comprar uma bike, mas perdi o medo, mesmo tendo um amigo que foi esfaqueado há seis meses. Agora, não sei mais."

O Globo

A pé ou de bicicleta, um 'não' à violência

Corrida, missa campal e bicicleata marcam protestos contra morte de médico na orla da Lagoa

Cerca de 200 participantes da Corrida da Paz se concentram na Lagoa, em um dos protestos que os cariocas fizeram ontem contra a morte do médico Jaime GOLD, esfaqueado terça-feira quando pedalava. As manifestações prosseguiram com missa campal, perto do Corte do Cantagalo, e uma "bicicleata" pela cidade. Para especialistas, por trás dos ataques com facas, há psicopatas e uma banalização do mal. Primeiro veio a violência. Depois, os pedidos de paz. Após uma série de oito ataques a faca que culminaram com a morte do cardiologista Jamie GOLD, quarta-feira, moradores e ciclistas realizaram ontem homenagens às vítimas e protestaram contra a violência no Rio. As manifestações, que começaram na Lagoa Rodrigo de Freitas — local da morte do médico —, se estenderam até o Palácio Guanabara, em Laranjeiras, e à Prefeitura do Rio, no Centro.

Pela manhã, cerca de 200 pessoas se reuniram na Lagoa para participar de uma corrida pela paz. Vestidas de preto, fizeram um minuto de silêncio em homenagem a Jaime Gold.

Em seguida, mais de 100 ciclistas se reuniram em missa campal, na altura do Corte do Cantagalo. O grupo seguiu nas 'magrelas' até o Palácio Guanabara. Lá, encontrou-se com familiares de Gilson da Costa Silva, de 13 anos, e Wanderson Jesus Martins, de 24, mortos terça- feira durante operação policial no Morro do Dendê, na Ilha do Governador.

Os manifestantes chegaram a fechar, por cerca de 10 minutos, o trânsito da Rua Pinheiro Machado, onde deitaram as bicicletas e pintaram o chão com tinta vermelha, referência ao sangue das vítimas da violência. Em seguida, parte dos ciclistas repetiu o mesmo ato em frente à sede da prefeitura do Rio, na Cidade Nova.

VÍTIMA PARTICIPA DE ATO

Entre os manifestantes, na Lagoa, estava o franco-brasileiro Victor Didier, de 19 anos, que voltou à região pela primeira vez após ser esfaqueado no dia 19 de abril. Victor teve os dois pulmões perfurados e chegou a ficar 15 dias internado no CTI do Hospital Copa D'Or. O estudante de engenharia afirmou estar chocado com a morte do médico.

— Imaginava que o meu caso serviria de exemplo para o reforço do policiamento. A sensação é de que nada foi feito para mudar essa situação — observou.

Os protestos surtiram efeito na Lagoa. Duplas de policiais em bicicletas reforçaram desde a manhã a segurança no bairro. Carros da PM também faziam patrulhamento ao longo das avenidas Epitácio Pessoa e Borges de Medeiros. Uma das viaturas estava baseada a poucos metros da Curva do Calombo, onde o médico foi atacado.

Apesar de negar participação no assassinato do cardiologista Jaime GOLD, o adolescente de 16 anos suspeito do crime foi reconhecido por uma testemunha como o responsável por um ataque a faca no dia 30 de abril, na Zona Sul. Para a polícia, o reconhecimento mostra que o jovem mentiu ao afirmar que havia parado de praticar crimes há dois meses.

Na noite de sexta-feira, policiais civis apreenderam 34 facas, escondidas em diferentes pontos na Praça Nossa Senhora do Amparo, em Cascadura, na Zona Norte. Policiais levaram 49 pessoas que estavam no local para averiguação. Um homem, Marcos Santos Moreira, era foragido e foi preso.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Alunos ganham bônus nas notas ao ir de bicicleta para escola na Itália

22/05/2015 - BBC Brasil

O projeto de uma escola pública italiana que melhora as notas dos alunos que usam a bicicleta como meio de transporte tem atraído a atenção dos moradores da cidade de Aprilia, a 30km de Roma.

Criado por um estudante, o programa Bike Control, da escola de ensino médio Liceu Antonio Meucci, conta com um dispositivo que, fixado à bicicleta dos alunos, registra a data, o horário e a distância do percurso realizado.

Além disso, um sistema exclusivo feito em parceira com a Universidade La Sapienza, em Roma, calcula a quantidade de gás carbônico que deixa de ser emitida à atmosfera quando se troca o automóvel pela bicicleta.

A ideia surgiu há mais de um ano, quando Lorenzo Catalli, então aluno do último ano da escola e hoje estudante de engenharia, ia de carro para a escola, acompanhado pelo pai.

"Parados no trânsito, nos perguntamos quanta poluição deixaríamos de produzir se a maioria dos alunos fossem à escola de bicicleta, e não de carro", diz ele à BBC Brasil.

"Depois de realizar o projeto de sensores com meu pai, apresentei-o a um dos meus professores e logo tivemos o apoio da direção da escola para implementá-lo."

'Uso frequente'

Lorenzo Catalli teve a ideia do programa quando estava em engarrafamento

Para ganhar pontos, os estudantes devem usar a bicicleta no mínimo 3 ou 4 vezes por semana. "Poder quantificar a própria contribuição ao meio ambiente é gratificante, mas o importante não é o número de quilômetros percorridos, mas o uso frequente da bicicleta", disse Catalli.

Pelo sistema de avaliação das escolas italianas, além das notas conseguidas em provas escritas e orais, os estudantes de ensino médio contam com o "crédito de formação", uma pontuação obtida com a prática de atividades extracurriculares e que integra a média final necessária para superar o Exame de Estado, indispensável para o cursar o ensino superior.

O diretor da escola, Antonio Perrone, diz à BBC Brasil que o principal objetivo do programa é conscientizar os estudantes sobre a relevância ecológica de se usar a bicicleta em vez do carro. E oferecer uma recompensa pode ajudar.

"Para os estudantes, é importante, porque ganham pontos que valem para passar no exame", afirma Perrone.

"Os estudantes já contam com uma variedade de atividades que podem ser realizadas para formar o crédito de formação, como trabalhos voluntários, atividades artísticas, estudo de línguas. Pela primeira vez, o uso da bicicleta, por seu valor ecológico, passou a ser uma delas."

Bolsas de estudo

Controle de distância percorrida é feita por equipamento instalado na bicicleta

Os dados relativos ao percurso dos ciclistas são inseridos em um computador e divulgados mensalmente através de um site com a classificação dos estudantes que participam do programa. Em abril de 2005, o aluno com mais pontos havia pedalado por mais de sete horas em um mês, totalizando quase 120 quilômetros.

A iniciativa ganhou o apoio da prefeitura, que financia a produção e instalação dos dispositivos nas bicicletas e pretende estender o projeto a outras instituições públicas e privadas.

"A partir do próximo ano, premiaremos os três estudantes que mais acumularem pontos com bolsas de estudos no valor de 300, 200 e 100 euros", diz o diretor.

"Estamos formando um grupo de estudantes voluntários que fará a inserção dos dados em outras escolas", afirma à BBC Brasil a secretária do Meio Ambiente, Alessandra Lombardi.

"Além disso, estamos estudando com alguns supermercados da cidade mecanismos de incentivo tanto para os clientes quanto para os funcionários, que poderão acumular pontos e OBTER DESCONTOS em compras com base no uso de bicicletas."

Diversas lojas e serviços de manutenção de bikes da cidade já aderiram à iniciativa, passando a oferecer prêmios, como pneus, câmeras, manoplas, aos alunos que participam do programa.

Durante o primeiro ano do projeto, mais de uma tonelada de gás carbônico deixou de ser emitida à atmosfera graças ao projeto do Liceu Antonio Meucci.

"Somos a única cidade da Itália realizando este tipo de medição e queremos levar nossa experiência a outros municípios", afirma Lombardi

terça-feira, 19 de maio de 2015

Café na bike é nova tendência de negócio em SP

19/05/2015 - O Estado de SP

A combinação entre bicicleta e cafeteria despertou o interesse dos empreendedores e tem motivado a criação de pelo menos três negócios desse tipo na cidade de São Paulo.

Com a ideia de ser uma cafeteria sobre rodas, as bikes circulam em eventos fechados, feiras empresariais e gastronômicas. O modelo tem feito sucesso e as empresas traçam agora planos de expansão com possibilidade até de franquias.

Uma das empresárias que decidiu INVESTIR no café sobre duas rodas é Marina Bandeira Klink, mulher do navegador Amyr Klink. Formada em Relações Públicas, ela criou a empresa 1 Café e a Conta, com foco em eventos. Sua ligação com a bebida começou com as fotos das xícaras de café que fazia durante suas viagens de barco pelo mundo, ao lado do marido.

"Quando acaba a tempestade, o sol reaparece. Nessas horas, não há prazer maior do que ir até a cozinha, passar um café e sair do lado de fora para ver as geleiras, olharas paisagens e  tomar um café. Parece que aquece até o coração. Comecei fotografando esses momentos de grande prazer", conta Marina.

Marina conta que ao se dar conta da quantidade de imagens que tinha no celular, resolveu aproveitar o tema para entrar na brincadeira com as suas filhas. O desafio era obter o maior número de seguidores no Instagram. As fotos começaram a gerar interesse dos internautas e, hoje, depois de dois anos, ela tem quase 25 mil seguidores que acompanham as fotografias tiradas por ela e por outros seguidores que também enviam suas fotos.

A conta na rede social gerou um blog, um site e a oportunidade de criar um negócio.

"Comecei a pensar em ter um ponto (comercial) fixo, mas isso era fora de tudo que coloco no Instagram todos os dias. Aí veio a ideia de um café móvel até chegar na bicicleta", conta Marina, que tem Tamara Barbosa como sócia.

O projeto precisou de pouco INVESTIMENTO – R$ 25 mil – para sair do papel. A empresa tem compromissos marcados até 2016 e cobra a partir de R$ 3,5 mil para eventos com 300 pessoas, por exemplo. Um bartender e um barista servem as bebidas em copos personalizados. "A ideia não é vender só café. Tem de contratar o serviço que pode incluir o café, drinks e acompanhamentos."

Mobilidade. Já a Tasty Bike foi criada pelas amigas Carolina França, Fernanda Parlato e Carolina Feld após o trio enxergar uma oportunidade de servir cafés em feiras de negócios. "Começamos pensando na solução que queríamos oferecer e procuramos um formato para atender.

Percebemos que tudo se concentrava na praça de alimentação e que faltava mobilidade", conta Carolina França. O INVESTIMENTO inicial para montar o negócio foi um pouco maior, de R$ 75 mil, incluindo duas bicicletas e um sistema de gestão. "Somos muito procuradas para franquias. Parece uma rota certa, mas precisamos amadurecer a ideia da empresa. Até o começo do ano que vem vamos crescer por conta própria", diz Carolina.

Servir café em bicicleta também foi a alternativa encontrada por Guilherme de Oliveira para empreender. Formado em comércio exterior e com emprego no mercado financeiro, ele estava em busca de alternativas baratas para abrir o próprio negócio até criar o Oliver Brown Coffee Shop com INVESTIMENTO de R$ 7 mil.

A ideia para o empreendimento surgiu da época em que ele estudou na Austrália e tomava café na porta da faculdade.

Oliveira conta que pegava a bebida no copo e saía andando.  Nada de sentar em um lugar e tomar o café na xícara.

"Não tenho paciência (para tomar o café sentado). E quando cheguei aqui no Brasil só tinha Starbucks", conta Oliveira, que se estrutura para franquear a marca.

O copo de 300 ml é vendido por R$7. Para eventos privados, em empresas ou dentro de eventos e feiras de negócios, Guilherme de Oliveira tem a opção de copos menores para tornar o serviço mais barato.


quinta-feira, 7 de maio de 2015

Google Maps agora mostra ciclovias de cidades brasileiras

07/05/2015 - Tribuna Hoje - AL

Disponível desde 2010 nos EUA e 2012 na Europa, o recurso do Google Maps que mostra as ciclovias e rotas para ciclistas disponíveis nas cidades agora foi liberado para usuários brasileiros.

A visualização das ciclovias e ciclofaixas está disponível no menu de opções principal, na lateral esquerda. A opção "De Bicicleta" agora revela os trajetos disponíveis para tráfego seguro.

Entretanto, funcionalidade não será capaz de traçar a melhor rota que pode ser percorrida de bike para chegar a determinado local (como faz com as outras opções de meio de transporte), nem integrar seus trajetos com transportes coletivos que podem abrigar as bicicletas.

O recurso se propõe a revelar todas as vias destinadas ao tráfego de ciclistas. Os mapas das cidades de São Paulo, Santos, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis e Salvador no aplicativo já revelam as rotas especiais.

sábado, 2 de maio de 2015

Santo André anuncia 1ª ciclovia

30/04/2015 - Diário do Gde ABC

A Prefeitura de Santo André anunciou, na tarde de ontem, a implantação de ciclovia que ligará a região da Vila Luzita à Estação da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) Prefeito Celso Daniel, no Centro. O trajeto de dez quilômetros começa a ser construído na primeira quinzena de maio e tem prazo estimado de 90 dias para ficar pronto, ao custo de R$ 1,9 milhão.

A meta é chegar a 50 quilômetros de vias destinadas aos munícipes que utilizam a bicicleta como meio de transporte até o fim de 2017 – hoje a cidade conta com 11 quilômetros isolados. O custo total do projeto será de R$ 192 mil por quilômetro. "É um dos mais baratas do País. Vamos seguir o padrão da ciclovia de Sorocaba, que hoje tem 110 quilômetros, e é referência", destaca o secretário de Mobilidade Urbana, Obras e Serviços Públicos, Paulinho Serra (PSD). A ciclovia da Capital custou R$ 650 mil por quilômetro.

O equipamento será construído com recursos do Fundo Municipal de Trânsito, reserva que, entre outras fontes, contabiliza recurso arrecadado com multas e só pode ser utilizada para obras relacionadas à sinalização e novos modais.

O primeiro trecho foi escolhido porque representa o de maior demanda: cerca de 700 ciclistas circulam diariamente no eixo Vila Luzita – Centro de Santo André. A faixa exclusiva para as bikes passará pelas avenidas Queirós dos Santos, Santos Dumont, Capitão Mário Toledo de Camargo e Estrada do Pedroso. "Não haverá diminuição da capacidade viária das avenidas, que já está próxima do limite. Haverá estreitamento das pistas e recorte das calçadas em pequenos trechos", destaca Paulinho.

A Prefeitura estuda implantar outras sete rotas cicloviárias. A intenção é interligar os trajetos com os principais eixos do transporte público. Estão previstas ciclovias na Avenida Firestone (1,5 quilômetro), Rua Jorge Beretta (1 quilômetro), na ligação da Rua das Figueiras com as avenidas Lauro Gomes, Padre Manoel da Nóbrega, Lino Jardim e Atlântica (5,4 quilômetros), Avenida dos Estados com Avenida Presidente Costa e Silva (12,5 quilômetros), Avenida Prestes Maia (3,9 quilômetros), Rua Adriático (1 quilômetro) e Avenida Lauro Gomes (5 quilômetros).

Para o prefeito Carlos Grana (PT), a ciclovia será bem aceita pela população, que já respeita os dois projetos existentes atualmente: a pedalada noturna às terças-feiras e a ciclofaixa de lazer aos domingos. "Estamos dando motivos para as pessoas deixarem o carro em casa."

Ciclofaixa de lazer terá novo horário

A partir do próximo domingo, a ciclofaixa de lazer de Santo André passará a funcionar em horário diferenciado. O trecho de 10,1 quilômetros de extensão ficará disponível para os ciclistas entre 7h30 e 13h30, uma hora mais cedo que o antigo período.

A mudança foi pensada para contemplar a população que ficava aguardando a liberação do trajeto antes das 8h, diz o secretário de Mobilidade Urbana, Obras e Serviços Públicos, Paulinho Serra (PSD). "Há queda do número de usuários a partir das 13h30 e, com o novo horário, minimizamos os impactos do trânsito, que começam a partir das 13h."

O trecho atrai cerca de 6.500 usuários por domingo e tem custo estimado em R$ 18,32 por pessoa atualmente, número 20% menor que o previsto. A meta é atingir 10 mil ciclistas e, com isso, reduzir o custo unitário para R$ 11,90.

Ciclovias elevam venda bicicletas em 30%

30/04/2015 - Valor Econômico

O mercado de fabricação e venda de bicicletas quer crescer embalado pela criação de novas ciclovias nas cidades. Pequenos e médios fornecedores ouvidos pelo Valorestimam que o volume de entregas aumentou 30% em 2014 ante o ano anterior por conta do anúncio de mais vias para os ciclistas. Para dar conta dos pedidos, alguns empresários ampliaram o quadro de funcionários das fábricas em 20% e elevaram o número de revendedores em 45%. Modelos elétricos também estão na mira dos desenvolvedores, que apostam em lojas on-line para expandir as entregas. Levantamento do jornal "Folha de S.Paulo" indica que, até 2016, as pistas para ciclistas no Brasil devem somar 3,1 mil quilômetros, dos quais 1,4 mil quilômetros ainda serão criados.

Segundo a Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), houve um crescimento no mercado de categorias de maior valor agregado, como bicicletas para recreação, esporte e mobilidade urbana. Estes segmentos representavam 26,6% do total, em 2006. Em 2013, subiram para 40,6%. A frota nacional é estimada em mais de 70 milhões de unidades, com produção anual acima de quatro milhões de peças.

O empresário Tito Caloi, diretor da Cairu PMA, que produz e vende mais de 50 modelos das marcas Tito e Groove, aponta um salto de 30% nas vendas em 2014 por conta do desenvolvimento das ciclovias. "Houve uma maior demanda por opções urbanas", diz Caloi, que trabalhou na fábrica de bicicletas que leva o nome da família até 1999, quando a empresa foi vendida.

A Cairu PMA, com 120 funcionários, tem fábrica em Mococa (SP) e deve produzir 35 mil unidades em 2015. "Com a maior procura, preparamos a planta para o crescimento da oferta e ampliamos a rede de lojistas." As bicicletas custam de R$ 550, nas versões para crianças, até R$ 9,5 mil, valor de uma mountain bike com quadro de carbono. Para dinamizar os negócios, mostrar lançamentos e reunir revendedores, ele montou uma loja conceito, a AdoroBike, em São Paulo (SP). O site da loja também oferece bicicletas, peças e acessórios.

A Sense Bike, com fábrica em Manaus (AM), tem capacidade instalada de 40 mil unidades convencionais e elétricas por mês. Produz sete modelos, sendo três elétricos e duas versões convencionais. As bicicletas tradicionais custam de R$ 1,3 mil a R$ 2,6 mil e as movidas a energia valem R$ 3,8 mil. "Desde o início de 2014, quando mais prefeituras iniciaram projetos de ciclovias, houve um aumento de cerca de 30% na demanda, nas capitais", diz o executivo de vendas Caio Ribeiro.

A Sense aumentou o quadro de funcionários em 20% e em 45% o número de revendedores. "Finalizamos 2014 com 80 revendas e pretendemos terminar 2015 com 300 parceiros." O faturamento atingiu R$ 4 milhões em 2014, o dobro de 2013, quando funcionava como projeto piloto. O potencial em 2015 é de R$ 10 milhões.

A fabricante de calçados Paquetá vende unidades feitas na China, com marca própria, a Burnett, em 31 lojas da bandeira Paquetá Esportes, em oito Estados. "Também temos o canal virtual, com entrega nacional", diz Rodrigo Muniz, comprador responsável pela categoria de ciclismo da empresa. O portfólio de 2015 contempla 12 modelos, mas há planos para acrescentar mais três em 2016. Os preços são de R$ 1 mil a R$ 3 mil.

Com a demanda acelerada, houve falta de produto nas lojas. "Tivemos que readequar pedidos com fornecedores, mas concluímos 2014 com um crescimento de cerca de 70% nas vendas." Este ano, o plano é investir até 10% do faturamento da categoria no desenvolvimento de novos modelos.

Com a ajuda de programas de fomento, investidores privados e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial da Bahia (Senai-BA), a Guell está desenvolvendo bicicletas e patinetes híbridos, que misturam motor elétrico à propulsão humana. Segundo o sócio Yuri Berezovoy, a empresa montou estrutura em São Paulo para o desenvolvimento e manufatura dos quadros e conta com parceiros de design na Inglaterra e no Rio. "No segundo semestre, vamos lançar uma série de 50 unidades para entusiastas e colecionadores."

Cresce a procura por roupas especiais

Com mais ciclovias e maior procura por bicicletas, empresas que desenvolvem roupas e acessórios para ciclistas têm planos de expansão. A marca Velô, de São Paulo (SP), pretende chegar ao Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Salvador (BA) e Recife (PE). Já a gaúcha Cuore Veste Bici vai aumentar a oferta de produtos, com novas linhas de agasalhos e jeans. Estabelecimentos que reúnem bar, café, serviços de consertos e venda de produtos também aproveitam a chegada de novos consumidores no mercado.

Criada em 2014 pelas sócias Cláudia Weingrill, Nina Weingrill e Camila Silveira, a marca Velô lança duas coleções ao ano, com um volume de 1,2 mil peças dirigidas para ciclistas urbanos. "Há opções de R$ 30 a R$ 380", diz Nina, filha de Cláudia e amiga da estilista Camila. As roupas são vendidas via e-commerce e em bike cafés, voltados para fãs do ciclismo. Além de alternativas básicas para a prática de esportes, a cartela de produtos inclui calças, saias, blazers femininos e capas de chuva para homens.

Segundo Nina, as peças são feitas com tecidos leves, que secam rápido e não amassam com facilidade. Também oferecem proteção UV e acabamento bacteriostático, que inibe a proliferação de bactérias e odores. Para isso, utiliza material homologado pela Rhodia e a Invista, empresa de fibras têxteis.

Este ano, o plano é investir até R$ 200 mil na expansão da empresa. As vendas estão restritas a São Paulo, mas a ideia é chegar a mais cinco capitais. "Queremos fazer parcerias de criação com empresas que tenham o mesmo público ou com um grande varejista, depois de ganhar escala de produção."

Com sede em Porto Alegre, a Cuore Veste Bici investe em moda masculina e feminina para o ciclismo urbano, desde 2013. Segundo Roger Almeida Cardoso, sócio responsável pela administração e marketing da empresa, o volume da produção não pretende ser alto. "Como adotamos políticas como o comércio justo e o fomento à economia local, adaptamos as entregas à capacidade produtiva de grupos de costureiras", afirma.

O primeiro ano de fabricação foi encerrado com uma média de 400 peças, com preços de R$ 50 a R$ 120. O faturamento em 2014 alcançou cerca de R$ 20 mil. Cardoso diz que as mercadorias são vendidas pelo site da empresa, em cafés e lojas do segmento em Santa Catarina e São Paulo, além do Rio Grande do Sul. "Os maiores índices de vendas aparecem em locais onde o uso da bicicleta para a mobilidade urbana está difundido."

Para Alberto Tarazona, diretor comercial da Netshoes, site que recebe, em média, 30 milhões de usuários ao mês e oferece cinco marcas de vestuário e acessórios para ciclistas, os pequenos fabricantes podem ganhar maior visibilidade entre os consumidores com o tripé variedade, qualidade e preços competitivos. "Com o crescimento do mercado, é interessante oferecer linhas completas, com sapatilhas, itens com tecidos tecnológicos para a absorção de suor, mochilas e peças casuais", diz.